domingo, 23 de fevereiro de 2014

Sobre querer (e ser) viver da dança.

 Meu sonho não é ser primeira bailarina de lugar nenhum... Já não é há muito tempo.
Me formei professora, e é o que se tornou minha maior ambição. Quero ser educadora, transformadora. Que seja a longo prazo, levando às crianças das minhas turmas, mais que novos passos para elas decorarem, assimilarem em seus corpos. Quero fazê-las compreender a importância da dança em suas vidas, quero que elas queiram manter o ballet em suas vidas, quero que elas sejam o futuro da dança desta cidade, e não apenas pessoas que vão dizer "fiz ballet quando criança, acho bonito". Quero que a arte saia da mesmice em Belém. Das mesmas formas, mesmas fórmulas, mesmas pessoas, mesmas correrias e desespero, mesmas poucas pessoas lutando e prestigiando.
Mas lutar sozinha é praticamente uma luta vã. 
Queria ser mais que educadora, ser formadora, ou melhor, instigadora, provocadora. De opiniões, de ideias, de novos arte-educadores. Pois são os professores que devem fazer diferente em cada sala de aula, cada academia, cada escola, cada tablado. Transformar o ensino em prol da arte, da sociedade, do que eu acredito.
Queria parar de ouvir que "viver de arte é difícil", que "arte é complicado em Belém", que "sou artista, mas tenho um trabalho". Será que é muito? Será que é um devaneio meu acreditar que podia ser diferente? 
Quero ter o direito de sonhar alto e de ter outros sonhadores comigo. Como já encontrei alguns pelo caminho...
Queria que artistas não fossem tão egoístas, tão preocupados consigo mesmo. Que não tivéssemos que viver preocupados com bilheteria, vendas de obras, cachês... 
Queria poder ser acadêmica sem me afastar dos palcos, escrever, pesquisar, incentivar a produção científica e sobrar tempo pra ser bailarina e professora do baby-class ao ballet adulto. Queria contribuir no registro da história da dança paraense sem deixar de fazer aulas. Queria não ter que escolher entre fazer a dança pros outros ou pra mim. Queria não precisar ser ex-bailarina que dá aulas numa universidade, ou uma bailarina que "só" dá aula como todo mundo.
Quero que haja tempo, energia e força de vontade suficiente pra fazer tudo isso. Nem que me vire em duas, três... Que parem de surgir tantas barreiras, dificuldades, picuínhas, ou seja lá o que for.
Quero que a Dança seja o que ela tem de melhor em sua essência: a liberdade, o movimento e o prazer.

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