segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Reestreia

Um ano e quase quatro meses atrás passei por um susto que me levou a viver o maior pesadelo que pode existir na vida de uma bailarina ou um atleta: uma lesão grave que me deixou de muletas, sem poder dar aulas, subir escadas, andar mais de 10 minutos e o pior: sem dançar. Um pedaço tão pequeno do corpo, rompido. Um ligamento, que ao ser retirado do meu joelho, mais parecia um chiclete mastigado. Sofri demais. Às vésperas do exame da Royal Academy of Dance que me daria o título do Advanced 1, ficar parada, olhando as amigas, apenas torcendo por elas...
Na semana do exame, sequer as abracei, pois estava de cama, recém operada. Agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro. 5 meses frequentando a clínica de fisioterapia e o consultório do ortopedista. Já estava fazendo amizades por lá. Com uma diferença de massa muscular muito grande entre as duas pernas, comecei a musculação terapêutica. Parece que todo o tempo anterior tinha sido em vão. Cada dia, parecia que as pernas tremiam mais. Alguns meses mais assim, e nada de voltar à barra, ao centro, à sapatilha... Demorou para fazer um plié sem precisar me pendurar na barra. Era como se o tempo tivesse voltado e eu não soubesse mais dançar.
O processo ainda não acabou. Tem muito chão pela frente. Há muito a se recuperar: força, confiança, agilidade, fôlego...  saltos, relevés, piruetas.
Se quis desistir? Perdi a conta de quantas vezes. Mas aprendi que o meu corpo tem limites, e que devo respeitá-los. Aprendi também a valorizar as pequenas conquistas, ao invés de lamentar os fracassos.
Agora, a menos de uma semana do meu retorno aos palcos, tenho muito o que agradecer. E a muitas pessoas (algumas, particularmente especiais). Gente que me ajudou quando não podia andar só, que me tranquilizou nos momentos de desespero, que deu auxílio, apoio moral, que rezou pela minha recuperação. Como não agradecer também ao médico, aos fisioterapeutas e professores de educação física por toda a atenção e dedicação? Sem eles, não teria reaprendido a andar, me movimentar. 
Aos mais importantes: Minha família, meus amigos mais próximos, meu amor; meus amores. As pessoas mais pacientes do mundo por aguentar cada lágrima de dor e medo. Aqueles que nunca desistiram de mim, para que eu não desistisse de voltar a sonhar. É para (e por) vocês que irei dançar neste final de semana. Amo vocês.
Obrigada por tudo. Por fazerem parte disto.

Por fim, o convite:

A Ballare Escola de Dança orgulhosamente apresenta o maravilhoso espetáculo de natal "O Quebra Nozes", nos dias 6 de dezembro às 20h e 7 de dezembro às 18h30. Uma linda história para todos os públicos, que contagia através da magia natalina atrelada aos sonhos mirabolantes de Clara (personagem principal), deixando nossa história, muito mais emocionante. Não perca!! Ingressos à venda na bilheteria do Theatro da Paz!!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Desabafo

Queria pedir licença a todos para fazer uso do meu direito de liberdade de expressão.
Acredito que todos aqui sabem o quanto dedico a minha vida à dança, pra ser mais precisa, ao BALLET CLÁSSICO. Talvez nem todos tenham conhecimento, mas não é um mero hobby, distração, atividade física. É a minha escolha pra vida! Dedico-me não só dentro de sala, fazendo aulas, aperfeiçoando minha técnica e preparando meu corpo para tal. TRABALHO com a dança clássica há alguns anos e ESTUDO para isso!
Nunca me vangloriei disto, e nem precisei. Faço a minha parte em prol do que acredito e do que sei que sou capaz.
Não consigo conceber que toda a minha formação não seja válida na hora de um processo seletivo, na minha área de atuação. Anos dedicados apenas à teoria, outros somente à prática, e os mais recentes, aliando todo o meu conhecimento, simplesmente ficam anulados diante de quem decora mais datas.
É como se, saber lidar com um aluno de dança e conseguir atingir os objetivos esperados como professora, não fosse tão importante quanto saber quantos arabesques existem em cada escola de dança. Ou como se decorar o nome completo de uma antiga bailarina russa, fosse mesmo tão importante quanto saber aplicar um método de dança.
Talvez não valha de nada minha revolta, mas ela existe, e ninguém pode dar uma nota a ela. Não, eu não desistirei, pois minha vida será SEMPRE dedicada ao ballet. Ainda tenho a esperança de um dia fazer valer a COMPETÊNCIA, e não mais os favoritismos.
Não tenho medo de dizer isso. Não devo nada a ninguém que não seja minha família, ou pessoas por quem tenho verdadeira amizade, consideração e respeito, pois essas também sabem me respeitar e conhecem a Marina aluna, bailarina, professora, filha e irmã.


“O mais alto nível da humanidade, é a humildade.” 
(Leonardo DaVinci)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Sobre querer (e ser) viver da dança.

 Meu sonho não é ser primeira bailarina de lugar nenhum... Já não é há muito tempo.
Me formei professora, e é o que se tornou minha maior ambição. Quero ser educadora, transformadora. Que seja a longo prazo, levando às crianças das minhas turmas, mais que novos passos para elas decorarem, assimilarem em seus corpos. Quero fazê-las compreender a importância da dança em suas vidas, quero que elas queiram manter o ballet em suas vidas, quero que elas sejam o futuro da dança desta cidade, e não apenas pessoas que vão dizer "fiz ballet quando criança, acho bonito". Quero que a arte saia da mesmice em Belém. Das mesmas formas, mesmas fórmulas, mesmas pessoas, mesmas correrias e desespero, mesmas poucas pessoas lutando e prestigiando.
Mas lutar sozinha é praticamente uma luta vã. 
Queria ser mais que educadora, ser formadora, ou melhor, instigadora, provocadora. De opiniões, de ideias, de novos arte-educadores. Pois são os professores que devem fazer diferente em cada sala de aula, cada academia, cada escola, cada tablado. Transformar o ensino em prol da arte, da sociedade, do que eu acredito.
Queria parar de ouvir que "viver de arte é difícil", que "arte é complicado em Belém", que "sou artista, mas tenho um trabalho". Será que é muito? Será que é um devaneio meu acreditar que podia ser diferente? 
Quero ter o direito de sonhar alto e de ter outros sonhadores comigo. Como já encontrei alguns pelo caminho...
Queria que artistas não fossem tão egoístas, tão preocupados consigo mesmo. Que não tivéssemos que viver preocupados com bilheteria, vendas de obras, cachês... 
Queria poder ser acadêmica sem me afastar dos palcos, escrever, pesquisar, incentivar a produção científica e sobrar tempo pra ser bailarina e professora do baby-class ao ballet adulto. Queria contribuir no registro da história da dança paraense sem deixar de fazer aulas. Queria não ter que escolher entre fazer a dança pros outros ou pra mim. Queria não precisar ser ex-bailarina que dá aulas numa universidade, ou uma bailarina que "só" dá aula como todo mundo.
Quero que haja tempo, energia e força de vontade suficiente pra fazer tudo isso. Nem que me vire em duas, três... Que parem de surgir tantas barreiras, dificuldades, picuínhas, ou seja lá o que for.
Quero que a Dança seja o que ela tem de melhor em sua essência: a liberdade, o movimento e o prazer.