Montagem levou a
literatura de Cervantes para o palco do Schivasappa
Mais de 150 pessoas participaram da nova montagem
da Ballare, “Dom Quixote”, no último final de semana, 19 e 20 de novembro, no
Teatro Margarida Schivasappa (Centur), que ficou lotado com o público que foi
assistir ao espetáculo. No elenco, bailarinos e bailarinas da escola e da
Ballare Cia. de Dança, além de convidados especiais: o bailarino paulista
Guilherme Oliveira, primeiro bailarino da Cia. Brasileira de Dança Clássica (SP) e o ator paraense Paulo Fonseca
(Paulão), do Grupo Experiência. A produção da Ballare volta em nova temporada
nos dias 21 e 22 dezembro, no Theatro da Paz.
O público vai poder apreciar, novamente, uma grande
produção com riqueza de detalhes nos cenários, nos figurinos e, em especial, na
preparação do corpo de baile de “Dom Quixote”, ballet baseado no livro de mesmo
nome de Miguel de Cervantes, mas com foco na história de Kitri e Basílio, onde
os personagens Dom Quixote e Sancho Pança participam mais como observadores e
coadjuvantes. Apaixonada por Basílio, Kitri é obrigada pelo pai
(Lorenzo) a se casar com um nobre comerciante (Gamacho). É quando Dom Quixote,
que vive envolvido por suas fantasias com romances de cavalaria, e seu fiel
escudeiro, Sancho Pança, entram na trama e ajudam a decidir o destino dos
personagens.
Ballet em quatro atos criado em 1869 por Marius
Petipa, “Dom Quixote” é bem movimentado e suas coreografias são inspiradas nas
movimentações das danças típicas castelhanas. A versão criada por Mikhail
Baryshnikov foi escolhida por Ana Rosa Crispino, diretora da Ballare, para a
montagem da peça. Assim como a coreografia de Petipa, a música genial e
envolvente de Léon Minkus é uma das mais famosas do mundo da dança.
No papel principal (Kitri), as bailarinas Camila
Viana, Suelen Lopes e Aliny Luz, da Ballare Cia de Dança, se revezaram nos dois
dias de espetáculo, dançando com Guilherme Oliveira (Basílio), primeiro
bailarino da Companhia Brasileira de Danças Clássicas, de São Paulo e com Ronilson Cruz, da Ballare.
Aliny Luz teve a sua estréia como primeira bailarina em um ballet completo. Foto: Marina Nascimento |
Ronilson já dança há 10 anos e conta que pela
primeira vez participa de uma montagem completa de Dom Quixote. Dançar um
ballet de repertório inteiro e ainda como primeiro solista, segundo ele, foi uma
tarefa difícil, especialmente pelo preparo físico e teatral que o papel exige.
“Foi uma oportunidade ímpar, pois representou a valorização dos bailarinos
paraenses, em especial os homens, de poderem dançar os primeiros papéis”, diz
ele, que recentemente conquistou, justamente com o solo de “Dom Quixote”, o
primeiro lugar em variação masculina de ballet de repertório no 20° Dança Pará
Festival, ocorrido mês passado.
“A gente ensaia bastante, mas a experiência mesmo
só se adquire no palco. Nesse ballet sinto um misto de emoção e nervoso”, revela
Suelen Lopes, fisioterapeuta de formação que preferiu dedicar-se exclusivamente
à dança, sua “paixão”, e, hoje, junto com Camila Viana, é responsável pelas
turmas de ballet clássico da escola. Camila concorda com o nível de dificuldade
da peça: “As cenas todas são bem movimentadas em ‘Dom Quixote’ e exigem muito
dos bailarinos, mas a parte mais difícil, para mim, é a interpretação”,
ressalta a bailarina.
Na opinião de Guilherme Oliveira, “Dom
Quixote” envolve muito a todos, bailarinos, atores e técnica, pelo dinamismo da
peça carregada de interpretação e virtuosismo. “É um ballet de difícil execução
onde os solistas quase não saem do palco. Muito virtuosa, a peça espanhola exige
‘sangue quente’ de quem a dança devido à força da coreografia e da música”,
analisa o bailarino paulista, elogiando Ana Rosa por exigir o máximo de seus
bailarinos, o que resulta em trabalhos de “excelência técnica”.
O ritmo mais solto e descontraído também é
característica da peça, onde a sensualidade é outra marca, especialmente no
momento do pas de deux dos primeiros bailarinos. O elenco estava entrosado e
bem preparado, analisa Guilherme, que destaca a desenvoltura de Camila Viana,
que, em sua opinião, está entre as grandes bailarinas paraenses e alcança o
nível das melhores bailarinas de São Paulo.
Parceiro de Ana Rosa Crispino desde suas primeiras
montagens de ballets de repertório, Guilherme também coreografou um ballet
neoclássico para a companhia, denominado “Tritango”, e vai ministrar, na
próxima semana, um workshop de Ballet de Repertório.
Suelen Lopes interpreta Kitri. Ao fundo, as bailarinas e os atores contracenam. Foto: Marina Nascimento |
DESAFIOS - Ao todo, cinco atores
representaram personagens importantes do espetáculo, sendo dirigidos por
Paulão, o Gamacho, rival de Basilio. Pedro Figueiredo, do Grupo de
Teatro da Cultura Inglesa, revezou-se com Paulão no papel de Gamacho,
pretendente de Kitri - que teve como Lorenzo, seu pai, o ator Kauê Cohen, do
mesmo grupo teatral de Pedro.
Segundo Guilherme Oliveira, que assinou a
direção artística do espetáculo junto com Ana Rosa, o trabalho de direção de
atores e bailarinos acaba sendo um só, como aconteceu na cena do “falso
suicídio”, do terceiro ato, que, com 10 minutos de duração, levou cerca de duas
horas para ser ensaiada e concluída.
“A participação de um ator em óperas é a que mais
se aproxima do que é atuar em uma montagem de ballet”, opinou o ator Gustavo
Saraiva, formado pela Escola de Teatro e Dança da Universidade
Federal do Pará (ETDUFPA), que interpretou Dom Quixote. “Na ópera também
estamos no ritmo da música, mas ficamos mais na figuração”, acrescentou Thiago
Losant, do Grupo Defenestradores de Teatro, que interpretou Sancho Pança, personagem
que tem lhe desafiado: “Em um musical eu já cantei, dancei e interpretei. Aqui
tenho que me expressar só com movimentos e gestos, e no tempo musical, o que é
um grande desafio para qualquer ator”.
Paulão participou, pela Ballare, da montagem de “Dom
Quixote” em 2002, quando pela primeira vez foi montada no Estado do Pará a
versão completa do ballet. Nada mais propício, na opinião de Ana Rosa, do que
remontar o espetáculo durante as comemorações dos 10 anos da escola, inaugurada
em 2001. Dessa vez, além da Ballare Cia. de Dança, todos os alunos e alunas das
turmas de Ballet Clássico participaram. Na montagem histórica, de 2002,
Guilherme Oliveira foi o Basílio e o bailarino cubano Manrique Acosta
interpretou o papel de Espada.
Foto: Claudia Nascimento |
CRESCIMENTO - “Para qualquer artista, cada
apresentação é única, por isso essa remontagem tem sido mais que gratificante,
pois além de novos integrantes no elenco temos aqueles que participaram da
nossa primeira montagem. Entretanto, o crescimento técnico e emocional deles é
visível, o que nos deixa muito feliz em saber que, a cada apresentação e
montagem, nossos bailarinos estão cada vez melhores em técnica e
interpretação”, comemora Ana Rosa Crispino, que faz participação especial no
espetáculo como Mercedes, solista do grupo de espanholas e amiga dos
protagonistas, junto com Espada – papel revezado entre Guilherme, Nonato Mello
e Willame Diniz.
A direção geral do espetáculo foi de Ana Rosa
Crispino, bailarina, coreógrafa e professora da Ballare Escola de Dança e
professora registrada da Royal Academy of Dance, a maior organização
internacional de exames de ballet clássico. A Ballare já montou outros ballets
do repertório clássico, como “O Quebra Nozes” e “Coppélia”. Do espetáculo
participaram todos os alunos e alunas das turmas de ballet clássico da escola,
além dos bailarinos e bailarinas da Ballare Companhia de Dança.
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Ana Rosa e Guilherme como Mercedes e Espada Foto: Manoel Pantoja |
Uma sessão especial no domingo, 20, às 16 horas, foi
reservada para pessoas oriundas de projetos sociais. A iniciativa de promover
esta sessão é da Ballare em parceria com a Cia Arte e Produções. Kitri e
Basílio foram interpretados por Aliny Luz e o paulista Guilherme Oliveira, que
fez questão de participar deste espetáculo.
Ana Rosa Crispino é professora registrada da Royal
Academy of Dance, a maior organização internacional de exames de ballet
clássico, e a única bailarina paraense a possuir o direito de usar após o seu
nome, as letras ARAD (sigla para Associate of the Royal Academy of Dance),
designação concedida apenas para bailarinos que tenham adquirido sucesso no
exame de Advanced 2, o mais avançado nível desta Academia. O que a credencia a
fazer parte do seleto rol de ARAD’s em nosso país.
A nova temporada do espetáculo “Dom Quixote”, da
Ballare Escola de Dança, com a participação de bailarinos e atores convidados, acontece
nos dias 21 e 22 de dezembro de 2011, às 20 horas, no Theatro da Paz. No
domingo à tarde, também haverá sessão voltada para instituições filantrópicas.
Mais
informações: (91) 3241-3182, 8408-7087 e ballare@oi.com.br
Texto: Luciane
Fiuza – Jornalista - DRT/PA 1854